quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Cotovelo & Prazer

   Eis que surge uma nova tese. E que sirva de refrigério ao hálito tépido expelido pela Academia; o comprovamos empiricamente: cotovelos podem ser altamente libidinosos. Um toque basta. Ora, desde que a licença dominou os povos que um pulso deixou de ser objeto de desejo. Pois bem, também um cotovelo. Não, não, não que alguém vá ficar tremendamente comovido com as vistas de um. Porém, a título de prova, farei um relato: Camilinha tinha dezesseis anos e jamais houvera despertado para os amores desta vida. Mesmo que suas amigas atafulhassem seus ouvidos com relatos de descobertas feitas atrás das portas dos banheiros escolares. Estava alheia e sequer possuía curiosidade suficiente para tais movimentos. Ia de casa ao colégio, do colégio para casa. Lia revistas sobre o astro preferido e enfeitava a cama com bonecas e ursinhos. Certo dia, como o ônibus que tomara estivesse cheio, parou de pé ao lado de um rapaz, este sim, sentado. Ergueu os braços para se segurar e projetou o corpo um pouco adiante. O rapaz estava com o cotovelo apoiado no braço do assento e encontrou-se, por engano, com as intimidades de Camilinha. O balanço da condução e o tanto de passageiros que se esforçavam naquele aperto por sair, forcejavam ainda mais o toque. Foi quando ela sentiu algo diferente e baixou a cabeça para ver a quem pertencia o cotovelo: um rapaz belo, distraído, sonolento; Camilinha não fez caso e suavemente continuou o jogo de empurra. O nó da articulação pressionava o sexo fazendo-o gotejar. A menina suspirou, só não imaginou nada. Apenas entregou-se ao balanço do corpo. A respiração intensificou-se e seu arfar produzia ruídos leves. Veio-lhe a descoberta. Camilinha saltou se sentido suja, e rindo da situação. Camilinha despertou enfim a puberdade e pensou em duas pessoas sentadas, dividindo o mesmo banco, quando inopinadamente os cotovelos se esbarram: a pele, tecido elástico, afunda e adere. Um contato corpóreo entre seres mutuamente desconhecidos. E basta um instante para que estejam ligados, numa troca despropositada. Ali se dá um encontro e margem a mil pensamentos, ou a nenhum, apenas à sensibilidade e o efeito de um beijo, de um abraço, de um aperto, de um arrepio. Camilinha nunca escondeu os pulsos, os ombros e os tornozelos. Ela percebeu, entretanto, o que suas amigas no banheiro jamais perceberiam: um toque responde por mil sensações e, convenhamos, cotovelos são bem persuasivos! 

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