O segundo a chegar para a comemoração é Schopenhauer, com o trecho de A Arte de Escrever, retirado de seu livro Parerga e Paralipomena.
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Arthur Schopenhauer (1788-1860)
''Quando observamos a quantidade e a variedade dos estabelecimentos de ensino e de aprendizado, assim como o grande número de alunos e professores, é possível acreditar que a espécie humana dá muita importância à instrução e à verdade. Entretanto, nesse caso, as aparências também enganam. Os professores ensinam para ganhar dinheiro e não se esforçam pela sabedoria, mas pelo crédito que ganham dando a impressão de possuí-la. E os alunos não aprendem para ganhar conhecimento e se instruir, mas para poder tagarelar e para ganhar ares de importantes. A cada trinta anos, desponta no mundo uma nova geração, pessoas que não sabem nada e agora devoram os resultados do saber humano acumulado durante milênios, de modo sumário e apressado, depois querem ser mais espertas do que todo o passado.''
Esse é o quadro que percebemos nas Universidades atualmente: alunos e professores pretensamente engajados na construção do saber. Lêem livros, debatem, fazem notas de rodapé, citam autores e a todos, diante da pompa do conhecimento, impressionam e angariam o respeito dos incautos. Porém, se olharmos bem de perto, com uma lupa que aumente sua proporção, veremos que não há efetivamente a construção do saber, mas simples imitação. O esquema, talvez, seja um tanto complexo para quem não teve oportunidade de observar pontualmente, porquanto há muitos aspectos que perfazem o dito quadro. O que se pode dizer é que se a Universidade fosse a ágora grega, haveria a predominância de demagogos.
Evidentemente, contudo, que não se pode afirmar peremptoriamente que cada Universidade apresente tais características. Mas as temos visto muitas assim. Os professores adotam uma postura absoluta e distante, transmitem o conteúdo das aulas, recomendam textos e, de tal forma se embrenham naquela ciência, que só sabem falar dela. Não adianta que lhes peçam irem além: o conteúdo é limitado. E este mesmo conteúdo vai estampar capas de livros que enfeitam prateleiras, as quais poucos visitam - apenas os iniciados nesta arte e linguagem complexas e herméticas. Viviam gritando contra o sistema e o criticam quando podem, mas são incapazes de desfazê-lo. Ao contrário, se imiscuem e perpetuam aquilo que ora condenavam - se fazem algum trabalho que pareça mais próximo da sociedade, é pura falsidade; na realidade, são seres egoístas qua jamais abririam mão de seu quinhão. Morrerão em suas cátedras, jurando que sua ciência é maior do que as demais.
No que tange aos alunos, a situação não é muito diferente. Adquirem o conhecimento sem questioná-lo, ou, se questionam, é para atacar o conhecimento do outro. Querem afetar a consciência e presam por valores torpes que divide a turma, a qual acharam por bem juntar-se, para não parecerem retrógrados e mesmo ignorantes. E são extremamente contraditórios: a igualdade e a liberdade se justificam no caso do próximo, quando pensam ser correto julgar; nunca no caso deles próprios, afinal, qualquer coisa que lhes embote a opinião é repressão desavisada. O falar pode ser rebuscado conforme a ocasião, podem tabém usar de expressões modernas e há quem se valha dos talentos da oratória para lograr alguma consideração entre os seus. Porém, nenhum deles parou para se perguntar a razão daquilo tudo, nem mesmo pensou na possibilidade de estar errado. No fundo, o pensamento que tanto divulgam não lhes é original; é uma cópia, uma imensa colcha de retalhos de frases de efeito tiradas de inúmeros filósofos. Culpa do ensino que obriga a tudo provar com referências - nada do que é seu pode servir, a menos que seja corroborado por algum grande pensador. Então, podemos concluir que não há produção, mas reprodução. E uma malta de fantoches que irá virar professora no futuro, mantendo o sistema como ele é. Ora, na Universidade também há padrões: seja no modo de se vestir ou na qualidade dos livros que se lê; o importante é não destoar. Claro que um aluno jamais dirá que segue padrões, pois o padrão é exatamente este!
A Universidade é uma ilha; ela analisa a sociedade de longe; e se convém, faz seminários, colóquios, convenções para tentar saber o que há de errado extramuros. A ação, entretanto, passa longe de sua intenção. A Universidade é uma ilha, reitero; uma ilha de demagogos.
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