Lembro-me, como se fosse hoje, de um trabalho que fiz para a matéria de Brasil I - correspondente ao período colonial - que tive na faculdade: era sobre o livro de Caio Prado Júnior. A apresentação foi lastimável. Eu ainda cismei de fazer uma afirmação categórica, interpretando livremente o autor, dizendo que ainda vivíamos em plena República Velha. A professora não entendeu e eu não soube explicar. Passados seis anos desta malfadada apresentação, sinto ter agora uma justificativa plausível, posto que minha opinião não mudou muito.
Para os monarquistas, o dia 15 de Novembro é um dia de luto. Chamam golpe a articulação republicana e se reúnem para tomar chá e lamentar a deposição do Imperador. Talvez isso seja a manifestação do descontentamento com o atual regime - e eu não lhes tiro a razão! São constantes os casos de corrupção, desvios de verbas, improbidades, falta de decoro da parte de políticos. Voltando à minha afirmação categórica, vejo raízes nefastas, a herança maldita de um tempo em que se tratava o bem público como algo privado. Em verdade, uma ruptura efetiva nunca houve. Mesmo quando aparentemente agentes do povo chegam ao poder. O que existe de fato é uma adequação ao sistema e uma mimetização da própria elite que se ajusta aos processos históricos para continuar no comando - ou será que existiu no Brasil uma revolução popular de grande alcance e que tencionasse modificar a conformação do Estado? Acho que dormi nessa aula. O que há, o que sempre houve, é a política dos coronéis, dos personagens bonachões, que apadrinham, que mentem acintosamente, que trocam benfeitorias por votos, que representam o ranço, o vício de uma sociedade que não conhece a verdadeira cidadania. E que não recaia a culpa somente na República Velha! Os tais coronéis são bem mais antigos. Eles têm sobrenomes que remontam ao Império. Têm um passado construído a partir da nossa Independência, onde garantiram assento cativo no cenário nacional.
Não acredito que a Democracia seja o sistema ideal, todavia ainda não foi superado por outro melhor. E, no caso do Brasil, é uma utopia crer em sua consolidação. Afinal, não entendo como se pode falar em Democracia consolidada com voto obrigatório! Mais: não entendo Democracia sem o conhecimento da cidadania. E a cidadania não está somente nos direitos adquiridos, mas nos deveres também! Parafraseando Stendhal, na Nau do Estado, todos querem uma posição de comando - maiorias e minorias -, todos querem uma 'fatia do bolo', uma autopromoção, reafirmando o pensamento que compreende apenas o bem privado e o direito individual. Assim, a República vai mal!
É provável que o 15 de Novembro haja sido uma grande conquista, da qual, porém, não soubemos fazer bom proveito. Para que possamos viver em um regime igualitário é preciso que promovamos rupturas, que apostemos em alguma renovação, por menor que ela seja, e não mantenhamos as velhas figuras... Engraçado, não sei o motivo de escrever isso... Bem, parabéns para a República e a quem ainda tem esperança de comemorá-la! Acho que vou tomar chá com os monarquistas!