segunda-feira, 19 de julho de 2010

Personalidade do Mês de Julho

Victor-Marie Hugo (1802-1885)

   Victor Hugo foi um escritor francês de influências românticas e realistas, criador do personagem Quasímodo de O Corcunda de Notre-Dame. Uma de suas obras mais famosas é a monumental Os Miseráveis, publicada em 1862, que narra os acontecimentos em torno da Revolução de 1830, constituindo-se em verdadeiro tratado político e sociológico. É dela o trecho a seguir:

   ''Tenhamos compaixão dos castigados. Ai! Quem somos nós mesmo? Quem sou eu, eu que falo a vocês?Quem são vocês, vocês que me escutam? De onde viemos? Há mesmo a certeza de que nada fizemos antes de nascer? A Terra não deixa de ter semelhanças com uma prisão. Quem sabe se o homem não é um castigado pela Justiça Divina?
   Olhem a vida de perto. Ela é feita de tal forma que por toda parte se vê punição.
   Você é daqueles a quem se chama de feliz? Pois bem, você fica triste todos os dias. Cada dia tem sua grande amargura ou sua pequena preocupação. Ontem você temia pela saúde de alguém querido, hoje receia pela própria saúde; amanhã haverá uma preocupação de dinheiro, depois a crítica de um caluniador, a infelicidade de um amigo, mais tarde o tempo que está fazendo, e depois alguma coisa que se quebrou ou se perdeu; e ainda um prazer que a consciência e a coluna vertebral reprovam; e outra vez a marcha dos negócios públicos. Sem contar as penas do coração. E assim sucessivamente. Uma nuvem se dissipa, outra logo se forma. Apenas um dia em cem de plena felicidade e pleno sol. E você faz parte desse pequeno número que é feliz! Quanto aos outros homens, a noite estagnante paira sobre eles.
   Os espíritos reflexivos servem-se pouco destas palavras: os felizes e os infelizes. Neste mundo, vestíbulo de um outro, evidentemente não há felizes.
   A verdadeira divisão humana é esta: os que vivem na luz e os que vivem nas trevas. Diminuir o número dos que vivem nas trevas, aumentar o número dos que vivem na luz, eis o objetivo. É por isso que gritamos: ensino! Ciência! Aprender a ler é iluminar com fogo; cada sílaba soletrada cintila.
   De resto, quem diz luz não diz necessariamente alegria. Também se sofre com a luz; em demasia, queima. A chama é inimiga da asa. Queimar-se sem parar de voar, é esse o prodígio do gênio.
   Mesmo com conhecimento e amor, ainda se sofre. O dia nasce em lágrimas. Os iluminados choram, mesmo que seja apenas sobre os que vivem nas trevas.'' 

   As palavras de Victor Hugo, características de sua época, talvez tenham antecipado questões existencialistas dentro de uma visão global em relação à condição humana. A compreensão da Terra como prisão faz com que o homem seja eterno condenado, submetido a penas e privações, presa de um torvelinho de infelicidade, onde a ignorância é o maior dos castigos. Contudo, ele admite que nem mesmo o conhecimento é sinônimo de alegria - a luz também queima! Ou seja, ter ciência da própria situação é causa de grande sofrimento; ainda assim estágio necessário.  A pergunta primordial sobre o significado da vida fica subentendida, resposta para a qual jamais viremos a ter. Amofinações diárias e preocupações sempiternas não permitem que a felicidade seja plena; alguns experimentarão um momento ao sol, quando muitos nunca lhe divisarão os raios; não há distinção entre felizes e infelizes: a infelicidade é cláusula sine qua non da existência neste planeta.

Perversão

   Quando o inspetor Morin adentrou o recinto daquele pardieiro, em uma noite do ano de 1888, ficou aturdido com a imagem. Nunca em seus anos trabalhando na polícia de Paris  vira algo parecido. Sentiu uma repulsa tamanha e uma ânsia tal que mal pôde se convencer que diante de si havia um ser humano. Levou o lenço à boca, depois secou a fronte e, afastando a impressão inicial, averiguou que quem quer que tenha sido o causador daquilo, fugira pela janela.
   Havia uma certa suspeita acerca dos hábitos de monsieur Jacques; homem alto, belo e proveniente de boa família. Sua postura altiva e austera era salvaguarda para que frequentasse os salões da alta burguesia francesa. Possuía gostos refinados, apreciava bom vinho e dedilhava alguma melodia no piano, além de valsar a gosto de todas as donzelas casadoiras. Contudo, mantinha-se reservado a qualquer proposta ou invasão a seu inviolável reduto. Monsieur Jacques havia herdado ações de um banco e a renda gerada deste lucrativo espólio ia dissipar em mesas de jogo. Ao cair da noite, saía em sua sege até determinado ponto da cidade, e de lá perdia-se a pé nas ruelas de Montmartre. A desconfiança sobre sua prodigalidade surgiu quando um dos sócios percebeu um desfalque. Somado a isso, um misterioso assassinato fez o inspetor Morin ficar no seu encalço.
   Um velho, antigo funcionário de Napoleão III, perdera o pouco que tinha no carteado e fora morto com requintes de crueldade: seu corpo amarrado encontrava-se com diversos talhos feitos à navalha, dos quais o mais extenso e profundo localizava-se no pescoço, quase a dar uma volta completa. O inspetor, chamado a investigar o crime, concluiu que quem matara o velho, o fizera sangrar por um bom tempo até decidir-se por rasgar-lhe a garganta e pôr termo à tortura. Disseram-lhe que um homem alto e bem vestido era o provável autor: - é um tal que aparece quase toda noite, de casaco com gola de pele e luvas de couro. Fuma charutos da melhor qualidade e sempre pede água de Seltz antes do vinho. O velho Ultime devia a ele, deve ter sido ele quem matou! - disse o taverneiro inquirido por Morin. 
-Não duvido que tenha sido ele - afirmou uma prostituta de nome Amalie - esse homem me procurou algumas vezes, pagava bem, mas gostava de coisas estranhas e chegou a me bater quando me neguei a fazer...
-Coisas estranhas? - Perguntou Morin - que coisas estranhas?
-É, pedia que lhe amarrasse e desse tapas, que o fizesse sangrar e... - fez uma pausa - certa vez quis que eu urinasse nele. Quando me neguei a deixar que fizesse tudo aquilo comigo, ele me bateu com a bengala e me ameaçou!
-Meu Deus, isso é abominável!
-Agora ele anda com Pauline. Já avisei a ela, mas, como disse, ele paga bem e Pauline deu de ombros.
-E onde está Pauline agora?
-No quarto que aluga aqui próximo.
-Poderia me levar até lá? - Morin não tinha dúvidas: as descrições davam conta de um homem em tudo igual a monsieur Jacques. Talvez a fortuna o fizesse dar um flagrante e pôr a ferros este tal - era o que esperava ao subir os dois lances de escada do pardieiro onde habitava Pauline.
   Deu dois ligeiros toques na porta e chamou pelo nome da jovem. Silêncio. ''Talvez não esteja em casa'' - pensou. Chamou novamente e o barulho vindo do interior denunciou a presença de alguém. Morin forçou a maçaneta. Um som gutural, um gemido aterrador e um pedido de socorro saído de uma voz sôfrega enregelaram as vértebras do inspetor. Esmurrou a porta a fim de arrombá-la, logrando escancará-la no terceiro golpe. A cena que ora se divisava quase fizera os olhos do inspetor saltarem das órbitas junto ao coração acelerado - um corpo de mulher, banhado em sangue, tendo seus membros arrancados, arrastava-se a muito custo no soalho. Adiante um machado e a janela aberta...
   Monsieur Jacques embarcou para Londres horas depois e nunca mais retornou à Paris.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

Quatro Questionamentos Acerca da Sociedade

   Outro dia um amigo falou que em salas especiais do aeroporto, pessoas com grande poder aquisitivo podem ser tratadas distintamente dos que ocupam lugares comuns no avião. Ali recebem total atenção dos funcionários, os quais cuidam para que nada lhes falte. O que espanta verdadeiramente é o fato do reconhecimento de que as malas destas pessoas não podem ser extraviadas de modo algum - de modo algum! Ou seja, compreende-se que os demais passageiros tenham suas malas extraviadas. Quanto a isso a empresa de aviação encontra um meio de contornar. Mas qual explicação daria a uma pessoa muito importante? Qual explicação dar a alguém que tem muito dinheiro e paga por um serviço realmente caro? As malas dos passageiros comuns até se perdem; jamais as de pessoas muito importantes! Daí percebemos que a luta pelos direitos iguais, a luta pela liberdade, a luta pela fraternidade fazem cair antigos tiranos para erigir novos que, em se reorganizando, criam outros métodos de sobreposição e destaque: se antes eram nobres, hoje são empresários?
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   Em Papua Nova Guiné existe uma tribo seminômade aborígene que vive no meio da mata, em casas construídas em cima de árvores. Ali, homens e mulheres andam seminus e tiram seu sustento da floresta e, através de instrumentos bem rústicos, conseguem cortar árvores, fazer fogo, caçar, fabricar farinha - tal como no período Neolítico. A reportagem sobre esta tribo utilizava termos como 'primitivo' e 'civilização', contrapondo culturas evidentemente díspares, repetindo certos vícios do senso comum que não admite, em pleno século XXI, que algo assim ainda exista. Nós, que temos as prerrogativas da civilização, perdemos irremediavelmente essa relação com a Natureza, e portanto somos incapazes de obter fogo e comida se acaso viermos nos perder na mata. Aí eu pergunto: quem é realmente primitivo?  
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   Uma médica me disse que, segundo uma constatação científica, mais da metade das pessoas acima de quarenta anos teria alguma doença crônica e seria dependente de remédios futuramente. O mundo moderno apresenta facilidades e tecnologias que visam melhorar a vida do indivíduo. Por outro lado o escraviza ao ponto de não saber mais se as grandes empresas de fármacos querem realmente que ele se cure... Ou permaneça doente para consumir mais e mais remédios. Será que as constatações científicas estão mesmo com a razão?
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   A histeria da população, sempre irrefletida, consente que o Poder Judiciário cometa excessos, arbitrariedades e, em uníssono com a sociedade, se arvore na condenação prematura e sem cautela. É preciso arranjar um culpado, é preciso dar uma satisfação, contar uma história, calar a todos e saciar a sede por sangue. E com isso velhos conceitos estão ressurgindo: agora se fala que as pessoas nascem criminosas. Um Estado que se diz democrático nunca deveria permitir uma acusação sem elementos concretos: todos são inocentes até que provem o contrário - não é o que diz a Constituição? E se o juiz tiver nascido criminoso também, quem irá julgá-lo?

domingo, 4 de julho de 2010

Impressões Paisagísticas I

Cemitério de Paquetá ao Pôr-do-Sol


   Quando a tarde já ia alta, a barca singrava a passagem entre os pilares da Ponte que, ao modo de garças, com pernas finas e fortes, enfileirados assim, pareciam poder saltar no menor soar de palmas. O vão extenso, no ângulo certo, assemelhava-se a um espaço de várias agulhas, postas umas diante das outras, permitindo ao fio correr folgado e livremente por entre elas. Mal se sabia as águas turvas, douradas pelo Sol daquela hora e agitadas à força do vento. A luz fulgia em raios que desciam pela margem acidentada do Oeste, realçando os pequenos morros de perto e azulando silhuetas de outros mais distantes; e quase encobertos por nuvens diáfanas, furavam-nas e seus braços resplandeciam sobre os montes. Ao fundo, a Serra, quase oculta, porém majestosa em seu contorno gigantesco. E a embarcação, na lentidão de uma tartaruga marinha, balançava por entre navios ancorados e igualmente indolentes - aqui e acolá, cargueiros e petroleiros com suas carcaças robustas de metal. A ilha enfim, verdejando a meio mar, assomou-se à paisagem  após algum tempo de viagem.
   A ilha, mal lembrando um número oito - de extremidades largas e curta no meio - pode-se percorrer em apenas um dia. Ali, visitantes têm o costume de passear em bicicletas e quadriciclos. O porto estava tumultuado de passageiros que chegavam, outros que aguardavam para embarcar, charreteiros, vendedores ambulantes e transeuntes em geral. O cemitério não fica longe dali - atravessando-se algumas ruas de terra batida, ei-lo deitado sobre uma pequena encosta, de muros baixos e entrada franqueada. As inúmeras sepulturas, dispostas nos declives do terreno, em degraus ascendentes, espalhavam-se entre árvores de copas altas, pintadas de branco na raíz. Uma casinha - possivelmente a do zelador - separava a ala destinada aos pássaros; e a capela rústica, no lado oposto, composta de pequeno altar e bancos de pedra para se pôr o esquife, achava-se aberta. A partir do terceiro lance, um caminho de paralelepípedos serpenteava para levar ainda mais alto no terreno, onde havia mais sepulturas e o mato crescido de limite. Poucos túmulos mantinham-se cuidados - azulejos e pastilhas frescos, flores e velas. A maioria estava coberta de limo; uns tinham a tampa quebrada e outros estavam vazios, tomados de terra e vegetação daninha. Apesar da melancolia das cores - verde e marrom acinzentados, bem foscos - o Sol se punha no horizonte, emprestando ao lugar certa vida. Era como se chamasse as almas perdidas para irem com ele - as lápides reluziam o vermelho esmaecido e solene do crepúsculo. O vento fresco ressoava nas folhas e nos galhos em atrito. No mais, era tudo silêncio.
   Fora dali, descendo até a praia, uma via cimentada conduzia ao farol que adentrava a noite fria, o mar bravio e a escuridão. Ouvia-se o marulhar inquieto nas pedras e nos barquinhos sacudidos. Na ponta, um verde luzia do alto de uma torre branca, indicando a entrada na enseada da ilha. Ao sul divisava-se a capital que, junto à outra cidade ao leste, imitavam as estrelas, vistas em maior quantidade dali. A ilha ficava a oeste e, ao norte, apenas um negrume no horizonte. E mais uma vez o vento a soprar tenazmente, interrompendo o sono da Natureza. Na volta, o mesmo quadro, porém, subtraindo-se o Sol, incontáveis lumes, nos barcos e nas margens, afestoavam a paisagem.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Deu Holanda!

   Edmílson era um valdevinos, o maior da paróquia! Um sorrisinho de esguelha e a face cínica, trazia sempre depois de assistir o jogo no bar. E vinha cambaleando, se escorando nas paredes para almoçar em casa. A mulher trabalhava fora; saía bem cedo e só voltava à noite, cansada, a tempo de comer e ir dormir. Edmílson, desempregado, enrolava a pobre dizendo que nada lograva nas extensas caminhadas que fazia a ver se achava trabalho. Em verdade, ficava metade do tempo na galhofa e outra a encoxar a diarista. Neste particular, tinha uma queda pelas mulheres, fosse de que estirpe, origem ou enlevo - rezava em todas as cartilhas, mas defendia um só time! E nem era bonito não; confiava na sua quebrada meio pelintra para enredar as graças de alguma menina, pois era das novinhas que gostava! Daí o fato de não deixar a moça da faxina em paz e ai dela se agachasse para escovar um rodapé. Longe, claro, dos olhos da esposa que pensava ser o marido um homem de bem.
   O entrave era a sogra, velha sabida, que sentia o cheiro de safadeza desde que Ana Maria anunciou o noivado. E implicava o mais que podia com o caráter leviano do genro. Porém, a vida tem desses desencontros e deu à velha mal disso, mal daquilo e a fez cair de langorosa enfermidade em cima do leito. Emagreceu, empalideceu - quase morreu! Quase! Mesmo com a dificuldade para andar, mesmo com as necessidades de um ente convalescido, ela manteve-se firme, de olhos bem abertos para as escapadelas de Edmílson. Vendo assim a mãe doente, Ana Maria instou para que ele aproveitasse o tempo livre e cuidasse da mãe, fazendo mil recomendações para poder trabalhar sossegada.
   As novas atribuições deixaram Edmílson com a gota: dava comida, remédio, levava ao banheiro e limpava: - ''bem que a empregada podia fazer isso'' - pensava. Mas Ana Maria não queria correr riscos de ver sua mãe maltratada: - cuide dela você que é genro! - dizia. Ele tinha razões particulares para sopear seus resmungos: a mulher era dona da casa e o sustentava. Ademais, todo dia cinco, levava a sogra para retirar a pensão no banco - e só por isso o esforço já valia! Se ela acaso engasgasse, dava uns tapinhas de leve no rosto dela: - dona Leonice, não morre, não! O que será de nós? O que será de sua filha sem a senhora? - querendo dizer: - ''o que será da pensão?'' - Sempre sobrava um trocado para a cervejinha ou para o Bicho, além de ser uma ajuda e tanto no orçamento: ela patrocinava o ócio dele.
   Por essa época, vizinhos novos se mudaram para a casa ao lado: um casal jovem e a mãe de meia-idade da moça. Travaram logo amizade e ficaram muito íntimos, a ponto de passarem juntos os feriados religiosos. De vistas compridas naquela moça, Edmílson fez algum malabarismo para impressioná-la. Ela, afetando fidelidade, não deixou que passasse de alguns abraços mais apertados, beijinhos no pescoço e mão atrevida. Entretanto, sua mãe, aquela de meia-idade, viúva e sacudida, assanhou-se e desfazia-se em sorrisinhos e piscadelas ao chegar o Edmílson. E como Ana Maria dispensara a diarista fresca e trocara por uma gorducha cheia de varizes, seu  passatempo era ir encontrar-se na alcova com a tal jovem senhora, quando o casal e sua mulher saíam para o trabalho. Recebia-o aquela com uma lingerie vermelha e o rosto afogueado pelos copinhos de batidinha mentolada - Edmílson se refestelava em suas carnes.
   A sogra percebia tudo e tentava denunciá-lo com voz pastosa e mole. Edmílson afirmava que eram delírios da senilidade e, na companhia da amante, chegou por fim a desejar que a velha morresse: - aquele estafermo está durando! Se vem uma tosse mais funda, penso que é a hora! Nada! Está carcomida, mas resiste! Bem que se ela empacotasse, eu voltaria à minha vidinha mansa; mas sob a patrulha da velha, eu não dou um passo em falso! Ah, eu renunciaria até à pensão e me empregaria! Meu Deus, o que digo? Não vou prometer o que não cumpro! - e riam ele e a outra. 
   Vieram então os jogos da Copa do Mundo e os vizinhos combinaram de ver juntos cada partida do Brasil. E para a festa preparavam comida da boa, tudo regado à muita bebida. Torciam e quando vinha o gol, Edmílson abraçava a vizinha e dava um beliscão disfarçado na mãe. E a sogra, deixada assim para trás, cuidava o Edmílson que não tardava fazer a passagem: - ''mas que não fosse em dia de jogo do Brasil! Tem é graça parar no cemitério na final da Copa!'' - Só que o destino tem aqueles tais desencontros: quando a seleção brasileira foi enfrentar a holandesa, Edmílson, apostando na vitória, empanturrou-se de feijoada, tomou muita cachaça e cerveja; teve um mal súbito e caiu duro. 
   No velório, dona Leonice, apoiada na filha, chegou vagarosamente e abaixando a cabeça, falou perto do ouvido do defundo: - deu Holanda!