sexta-feira, 9 de julho de 2010

Quatro Questionamentos Acerca da Sociedade

   Outro dia um amigo falou que em salas especiais do aeroporto, pessoas com grande poder aquisitivo podem ser tratadas distintamente dos que ocupam lugares comuns no avião. Ali recebem total atenção dos funcionários, os quais cuidam para que nada lhes falte. O que espanta verdadeiramente é o fato do reconhecimento de que as malas destas pessoas não podem ser extraviadas de modo algum - de modo algum! Ou seja, compreende-se que os demais passageiros tenham suas malas extraviadas. Quanto a isso a empresa de aviação encontra um meio de contornar. Mas qual explicação daria a uma pessoa muito importante? Qual explicação dar a alguém que tem muito dinheiro e paga por um serviço realmente caro? As malas dos passageiros comuns até se perdem; jamais as de pessoas muito importantes! Daí percebemos que a luta pelos direitos iguais, a luta pela liberdade, a luta pela fraternidade fazem cair antigos tiranos para erigir novos que, em se reorganizando, criam outros métodos de sobreposição e destaque: se antes eram nobres, hoje são empresários?
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   Em Papua Nova Guiné existe uma tribo seminômade aborígene que vive no meio da mata, em casas construídas em cima de árvores. Ali, homens e mulheres andam seminus e tiram seu sustento da floresta e, através de instrumentos bem rústicos, conseguem cortar árvores, fazer fogo, caçar, fabricar farinha - tal como no período Neolítico. A reportagem sobre esta tribo utilizava termos como 'primitivo' e 'civilização', contrapondo culturas evidentemente díspares, repetindo certos vícios do senso comum que não admite, em pleno século XXI, que algo assim ainda exista. Nós, que temos as prerrogativas da civilização, perdemos irremediavelmente essa relação com a Natureza, e portanto somos incapazes de obter fogo e comida se acaso viermos nos perder na mata. Aí eu pergunto: quem é realmente primitivo?  
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   Uma médica me disse que, segundo uma constatação científica, mais da metade das pessoas acima de quarenta anos teria alguma doença crônica e seria dependente de remédios futuramente. O mundo moderno apresenta facilidades e tecnologias que visam melhorar a vida do indivíduo. Por outro lado o escraviza ao ponto de não saber mais se as grandes empresas de fármacos querem realmente que ele se cure... Ou permaneça doente para consumir mais e mais remédios. Será que as constatações científicas estão mesmo com a razão?
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   A histeria da população, sempre irrefletida, consente que o Poder Judiciário cometa excessos, arbitrariedades e, em uníssono com a sociedade, se arvore na condenação prematura e sem cautela. É preciso arranjar um culpado, é preciso dar uma satisfação, contar uma história, calar a todos e saciar a sede por sangue. E com isso velhos conceitos estão ressurgindo: agora se fala que as pessoas nascem criminosas. Um Estado que se diz democrático nunca deveria permitir uma acusação sem elementos concretos: todos são inocentes até que provem o contrário - não é o que diz a Constituição? E se o juiz tiver nascido criminoso também, quem irá julgá-lo?

2 comentários:

Anna Cecilia disse...

Gostei muito dos seus questionamentos. Todos eles ajudam a nos lembrar o quão hipócrita são as pessoas e logo a sociedade ...
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Vc falou em Constituição e me lembrou que meu maior questionamento atual é com ela... Ontem assisti na TV um criminalista afirmar que a pessoa tem direito a não produzir provas contra si mesma, logo tem o direito de mentir em seu próprio julgamento(não há pena maior por isso por ser um direito). Ele deixou bem claro tb que o réu pode mentir, mas uma testemunha não pq é presa por perjúrio ... Que Constituição é essa meu Deus?

Cintia disse...

Amigooo, enfim venho ler o que vc escreveu... E mais uma vez, amei.

Concordo com vc em td que disse. Sabe, quando a Rev Francesa, movimento simbólico sobre o poder de mobilização do povo contra a tirania, ao fim de tudo, só conseguiu reafirmar a intolerância e o radicalismo, não foi a toa. Abaixa-se a cabeça para ricos e poderosos, como se a própria vida dependesse disso. Então que se dane a mala do cara comum, contanto que a do "Dr Fulano" (q na verdade nem é doutor) se perca.
Preconceituosamente, desdenha-se das tribos que sabem como ng, viver mto mais saudáveis do que vamos viver. Nós, que somos entupidos de vacinas deturpadas e remédios, que na verdade são grdes placebos, desde q somos pequenos.
E pasmeee! A lei "sabe" de td isso... Mas a "lei" não faz nada pra defender aqueles que mais se submetem a ela.