sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Amor Verdadeiro

   Ela levantou primeiro. Entrou no vestido curto cinza com estampa de cobra; espalhou um pouco do perfume importado no pescoço, escolheu algumas bijuterias, o relógio de pulseira fina, ajeitou o chanel, trepou nos saltos, pegou sua bolsa vermelha com alças douradas e cutucou o marido - ''estou indo, vou na frente, ouviu?'' - colocou os óculos escuros e ainda verificou no espelho se aparecera algum novo vinco no rosto. Ele levantou depois. Banhou-se, besuntou o cabelo com pomada, ficou entre a camisa de gola verde e a azul e sorriu por levar bem menos tempo para estar pronto; passou a mão na pasta preta e foi tomar café.

   Ele, enquanto cortava o pão, reparava de esguelha na diarista: baixinha, bem magra, de sandálias rasteiras, bermuda enfiadinha e blusinha curta. Num repente levantou e aproximou-se dela por trás. Concentrada na louça e sussurrando uma musiquinha, assustou-se com as mãos que escorregavam até seu ventre - ''o que é isso, seu Carlos?'' - tentou se desvencilhar dele -''ô morena, sabe que você ficou ainda mais bonita com esses seus cachos alourados?''- disse roçando seu corpo no dela - ''adoro esse seu perfume barato'' - ela logo reagiu - ''seu Carlos, o perfume não é nada barato, viu? Comprei a colônia em duas vezes na revista da Zulmira, entendeu? E olha, dona Vânia não vai gostar nada de saber que o senhor anda fazendo essas coisas!''- ele a virou de frente - ''esquece a dona Vânia e mostra esses biquinhos para mim, vai!'' - ela ainda relutando - ''seu Carlos, eu estou grávida'' - isso parece tê-lo açulado mais - ''deixa eu chupar esses biquinhos e eu lhe dou um celular novinho!'' - minutos depois, ele desceu as escadas do prédio com ar satisfeito e limpando os cantos da boca. 

   O motorista já esperava por ela. Entrou no carro no banco do carona e cruzou as pernas. Apesar de passar um tanto dos quarenta, sua pele ainda era lisa e tenra, e sentia um certo prazer em exibir suas coxas que escapavam dos vestidos que usava. Mesmo que não fosse uma mulher bonita, notou que o motorista andou reparando timidamente nela. Logo ele, um rapaz tão calado, formoso, porém, e longe dos trinta. Fantasiava, é verdade, com um homem mais novo, não obstante o seu marido fosse um. Mas ela desejava um bem mais, algo inexperiente, ou aparentando ser. Alguém como seu motorista, robusto e de olhos verdes; alguém com aquele perfume e pelos no peito. O carro diminuiu a velocidade por causa do trânsito engarrafado. Foi quando ela deu um piparote na guimba de cigarro, virou-se para ele e balbuciou no ouvido: ''o médico recomendou que eu andasse sem calcinha'' - depois deixou sua mão correr até a virilha do motorista ruborizado, pegou no pulso dele e levou seus dedos para baixo de sua roupa. Mandou que lhe fizesse uma massagem na região; e ela, esticando-se no banco, retesando os membros, cerrando as pálpebras, gemia baixinho. Ele só parou quando os dedos estavam molhados e ela acendia outro cigarro. Ao estacionar o carro, ela saltou e disse alto: ''passe para me pegar às seis!''

   À noite, após chegarem do trabalho, Vânia e Carlos jantaram e viram televisão; deitaram cada um em seu lado da cama e antes de apagarem a luz do abajur, beijaram-se e enfim um disse ao outro: ''amo você".




Um comentário:

R-E-N-A-T-O disse...

Gostei, muito observador.