segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Personalidade do Mês de Agosto

Henri-Marie Beyle (1783-1842)

   Henri-Marie Beyle passou para os grandes nomes da Literatura Universal como Stendhal. Em seu mais famoso livro, 'O vermelho e o Negro', faz uma análise da sociedade francesa por volta de 1830, contando a história do jovem Julien Sorel e sua amante Louise de Rênal. Os trechos a seguir traduzem parte da crítica feita à política de sua época pelo autor:

''Em meio a uma cidade de 20 mil habitantes, esses homens determinam a opinião pública, e a opinião pública  é terrível em um país que tem sua Constituição. Um homem dotado de uma alma nobre, generosa e que teria sido seu amigo, mas que mora a cem léguas, julga-o de acordo com a opinião pública de sua cidade, a qual é determinada pelos tolos  que o acaso fez nascerem nobres, ricos e comedidos. Ai de quem se distingue!''

''- (...) Eis toda a minha política: amo a música, a pintura; um bom livro é um acontecimento para mim; vou fazer 44 anos. O que me resta na vida? Quinze, vinte, trinta anos, no máximo? Pois bem! Imagino que daqui a trinta anos os ministros  serão um pouco mais hábeis, mas ainda tão honestos quanto os de hoje. A história da Inglaterra me serve de espelho para nosso futuro. Sempre haverá um rei querendo aumentar suas prerrogativas; sempre a ambição de tornar-se deputado; a glória e as centenas de milhares de francos ganhos por Mirabeau impedirão os ricos da província de dormirem: eles chamarão isso de ser liberal e amar o povo. Sempre a cobiça de tornar-se par do reino ou da câmara conduzirá os monarquistas. Dentro da nau do Estado, todo mundo vai querer o comando, que é bem remunerado. Será que nunca vai haver um lugarzinho para o simples passageiro?''

   Caso houvesse escrito seu livro atualmente, as impressões de Stendhal não mudariam muito - a política é a mesma. Os interesses pessoais superam os do bem comum, e para tanto, manipula-se a opinião pública de forma conveniente. Não há mais critério e seriedade; há avacalhação, escárnio, mofa. O político nem termina um mandato e logo o abandona com vistas em outro melhor e mais bem remunerado. Ali tem a chance de valer-se de artifícios, aparentemente benéficos, para ludibriar a população e mantê-la devidamente em seu lugar. O Estado não se compromete em mudar objetivamente a vida das pessoas; distribui esmolas, lava os pés e manda de volta à rua - hoje talvez se adquira uma geladeira com facilidade, mas a que preço? O de manter a malta rapace em seu lugar de sempre; o mesmo que ocupa desde 1808, 1822, 1889, 1930, 1964, 1985? O cidadão passa por todas as instâncias, empurrado pelas supostas leis de igualdade, ocupa cargos subalternos e jamais se pergunta o porquê de dançar este réquiem sinistro que o entretém, enquanto roubam seus pares; o importante é que ele não deixe de votar, obrigado que seja, na Democracia prostituta. 




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