segunda-feira, 4 de abril de 2011

Um Pouco Sobre a Justiça

   Recentemente, treze pessoas foram presas por protestarem diante da embaixada dos Estados Unidos durante a visita do presidente Obama. As treze pessoas manifestavam-se pacificamente, mas foram desabridamente repelidas e conduzidas a presídios. Não houve uma acusação formal, não houve um julgamento. Apenas a determinação de um juiz e a conivência da sociedade que, malgrado seu, não foi satisfatoriamente informada devido o caso ser assim sopitado pela grande imprensa. Uma breve nota de jornal, porém, guardou um imenso significado: a supressão dos direitos democráticos em prol de um bem maior. A frase é tão curiosa quanto a sua origem. Afinal, o que são direitos democráticos? E que bem maior é esse?
   O cidadão tem direito de protestar, tem direito de reivindicar e tem direito de se posicionar; e isso não somente em época de eleição, quando a Democracia é festejada. Se direita ou esquerda, cada um pode expressar-se, pois este é um princípio de uma sociedade que se quer livre e autônoma. Todavia, o passado nebuloso do Brasil insiste em reaparecer; passado onde havia autoritarismo e punição. E não por vias justas; por vias repressivas. Este fantasma não foi plenamente exorcizado - ele ainda nos assombra nas ações da polícia e, agora, nas medidas do judiciário.
   Certa vez, uma professora disse que o poder judiciário rivalizava com o executivo. Parece, entretanto, que o executivo encontra-se nulo. E pior: o legislativo e o mencionado judiciário, ora associados, fazem corroborar a idéia de que o bem público é algo privado. Ou será que não foi uma medida personalista, capaz de vencer a própria lei, que ordenou o encarceramento das treze pessoas sem um julgamento? Digo personalista, pois não se pode fazer prevalecer uma ideologia sobre outras dentro da Democracia - ou então teremos uma ditadura! Mais: teremos perseguições, proibições e encarceramentos propriamente ditos!
   Terrível precedente, péssimo exemplo! Isto demonstra que qualquer cidadão pode ser abordado, posto a ferros sob o pretexto da ordem, não obstante esteja exercendo o seu direito de manifestar-se. Isto demonstra que estamos vulneráveis diante das atitudes de qualquer pessoa que alcance um cargo notório, como o de um juiz, e que, valendo-se das prerrogativas, entenda que o certo é extrapolar suas reais funções! Tantas pessoas morreram em nome da Liberdade e olha aí, a História do Brasil é marcada por regimes autoritários e por golpes, de maneira que vivemos com o 'rei na barriga' e nos prosternamos até o chão às autoridades.
   Na aula daquela mesma professora, analisamos o código de 1830 e chegamos à conclusão óbvia de que quem legisla, legisla em causa própria - era assim com as leis do Império, é assim com as leis de hoje. Ao contrário do que era de se esperar: que as leis fossem constantemente revistas e questionadas; são tomadas como absolutas e, pelo visto, passíveis de serem burladas. Servem para que um calouro de direito, ou mesmo um desembargador, ufane-se, com a Constituição debaixo do braço, e diga que você poderá ser processado porque não sabe com quem está falando! O judiciário orgulha-se do seu prestígio e alardeia sua pretensão de agilidade, porém não consegue livrar-se da carga de um poder que pune ao invés de corrigir. Aí protagoniza este teatro canhestro prendendo treze pessoas que somente exerciam o seu direito de manifestar-se - coisa, aliás, garantida por lei.
   Enquanto elegermos o judiciário como aquele que realiza a vingança por nós, estaremos a mercê desse Estado desequilibrado, onde os poderes deveriam regular-se e não desaparecer uns diante dos outros.

Um comentário:

Anna Cecilia disse...

Adorei o texto!
Os principais jornais deixaram bem claro do lado de quem, eles estavam durante a cobertura desse protesto...

"... a idéia de que o bem público é algo privado" - outro exemplo bizarro disso foi um juiz que proibiu que banhistas joguem frescobol na praia na área exatamente na frente do apartamento dele. Ele alegou que não tinha sossego ou algo do tipo...