domingo, 29 de maio de 2011

Machado e as Batatas

Machado chegou trazendo as Batatas!

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Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908)

''Supõe tu  um campo de batatas e duas tribos famintas. As batatas apenas chegam para alimentar uma das tribos, que assim adquire forças para transpor a montanha e ir à outra vertente, onde há batatas em abundância; mas, se as duas tribos dividirem em paz as batatas do campo, não chegam a nutrir-se suficientemente e morrem de inanição. A paz, nesse caso, é a destruição; a guerra é a conservação. Uma tribo extermina a outra e recolhe os despojos. Daí a alegria da vitória, os hinos, as aclamações, recompensas públicas e todos os demais efeitos das ações bélicas.''

   Segundo a Bíblia, o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus. A menos que Ele também esteja submetido à fragilidade e limitação da matéria, o homem jamais teve uma origem divina. Ao contrário, sua transformação em ser racional foi um 'acidente' na escala evolutiva. Mesmo que seja capaz de rir, diferenciar-se de seu próximo, discernir, raciocinar e antever a morte, o ser humano não é nada além de um animal. Há aqueles, entretanto, que enaltecem a capacidade de raciocinar, em detrimento de teorias criacionistas, como se o primado da razão lhe desse um poder maior sobre a Natureza - o topo da cadeia alimentar. Talvez seja isto verdade; não obstante, a condição animal não desapareceu.
   Pode-se partir de observações simples que considerem as necessidades fisiológicas e de reprodução que exigem um esforço maior do organismo; e ir mais adiante até a impossibilidade de superar um dado universal: a violência. No entanto, a civilização, filósofa e científica, quer suprimir esta condição a todo custo. Eterno paradoxo! Aqui uma pequena tribo lutando por sua sobrevivência; ali uma nação querendo submeter a outra - e por que, eu pergunto, por que se, depois de séculos perseguindo o que é bom e o que é justo, os seres parecem não ter aprendido nada? Ou será que tantos pontos de vista nunca lograrão resolver nosso dilema, porquanto atrás de cada capa, espada, coroa ou cetro existe uma massa de carne perecível que nos torna iguais neste aspecto?
   As prerrogativas da civilização compreendem o dever de preservação da Natureza; com o devido distanciamento, contudo. Sopeamos os gêneros e prolongamos a vida; desejamos a paz e a igualdade; vestimos roupas e comemos alimentos congelados - porém, e se nós nos depararmos mais uma vez com o campo de batatas? Faremos guerra ou morreremos de inanição?  

Um comentário:

Anna Cecilia disse...

O ser humano tem a capacidade de decidir entre uma gama de opções! Acho que a maioria faria a guerra por ser a decisão mais impulsiva (se é que assim posso classificá-la), mas outros morreriam de inanição em nome de um bem maior chamado paz. Acredito também que outros teriam outras reações que nem imaginamos agora...

Assim é o ser humano uma eterna caixa de surpresa (além do paradoxo em forma de gente claro!).

Acredito que Deus está no ser humano, mas nem de longe o ser humano é imagem e semelhança Dele...