quarta-feira, 30 de junho de 2010

Intolerância às Avessas

   A sociedade brasileira enveredou por um caminho perigoso; um caminho, talvez, que traga a censura legitimada pela população que inventou de, novamente, eleger o Estado e seus Três Poderes como um Leviatã que realiza a Vingança em nome da Justiça. O senso comum não sabe discernir discriminação de preconceito, crendo serem palavras sinônimas, quando, em verdade, uma depende da outra sem necessariamente ter o mesmo significado. Está certo que uma palavra, de tanto ser repetida com um sentido, acaba por assumi-lo. Todavia, dizer-se livre de preconceitos é mentira! Todos têm preconceitos porque todos fazem pré-julgamentos, seja em situações simples do cotidiano, seja nas mais complexas que envolvem questões étnicas ou mesmo sexuais. Discriminação, apesar de partir de uma atitude preconceituosa, está associada à separação, afastamento, classificação. Quer dizer, é possível ter preconceitos, mas é inadmissível discriminar.
   Porém, considerando novamente o senso comum, interpreta-se qualquer crítica à uma postura ou modo de vida como preconceito sob a prerrogativa da liberdade de expressão. Não importam as vozes dissonantes, não importam as opiniões contrárias! A aceitação é obrigatória em nome da igualdade! E este tal discurso torna-se conveniente à medida que as pessoas passam a valer-se do preconceito como justificativa. Então, é neste momento que o aparelho público entra para punir aqueles que não concordam, aqueles que criticam - a liberdade de um é silenciada em detrimento da do outro. E cria-se uma intolerância às avessas.
   O preconceito jamais deve servir de bandeira e meio de esquivar-se da própria incapacidade. Não há quem não haja sofrido preconceitos, manifestos das mais variadas formas, pelos mais diversos motivos; e não há quem não tenha agido de maneira preconceituosa com alguém. Apesar de ser uma característica lamentável da espécie humana, nunca poderão arrancar da sociedade o juiz que dorme em cada um - isto é ilusão! Devemos combater, sim, a supressão dos direitos legítimos dos cidadãos, através de leis mais abrangentes, cuidando para que se não valham destes mesmos direitos passando por cima dos de seu próximo! Reconhecer as mazelas interiores, saber-se falho seria uma via interessante para melhorar o convívio social. Mas as leis, por vezes, concorrem para que certas máscaras de hipocrisia se sustenham, aumentando a leviandade dos que querem punição, condenação a qualquer preço, sem atentar para a lei em si que, supostamente defendendo o bem-estar social, pode discriminar com a anuência geral. Este é o grande monstro, o grande Leviatã que a sociedade está alimentando!
   Para concluir, antes que alguma mente irrefletida interprete erroneamente estas palavras, este texto não está atirando ao solo combates necessários à garantia de direitos. Ao contrário, observando aqueles que vulgarizam o termo, que o confundem e utilizam de forma egoísta e desmedida, é que o objetivo principal e real do mencionado combate não se perderá. Senão, a liberdade, a verdadeira liberdade vai mal...

Nenhum comentário: