domingo, 23 de maio de 2010

Hospital - parte II

   Um quarto minguante dominava a noite fresca e estrelada. Os muros altos e as copas das árvores ocultavam no escuro o edifício. Havia movimentação de carros entrando e saindo do pátio, porquanto fosse utilizado como estacionamento. Pessoas circulavam e luzes, vindas de todos os lados, iluminavam bem a parte da frente. Apenas as janelas, as inúmeras janelas fechavam-se para o mundo como olhos mortos. Preparamos o equipamento - lanternas, duas câmeras, gravador de voz, máquina fotográfica; subimos as escadas do saguão e entramos: uma outra dimensão, um outro tempo - as paredes, o piso, as portas... Tudo existia à revelia, sem mácula, mas com a tristeza do que foi um dia e já não é mais!
   Iniciamos a investigação examinando cada cômodo. As trevas, contudo, não reinavam absolutas. Alguns trechos recebiam as nesgas luminosas que vinham do exterior; e as vozes, provindas de vários apartamentos dos prédios circundantes, chegavam. Mexemos no passado e com o pobre morcego que revoava tranquilamente, crendo que naquele território não haveria mais interferência do homem. Em determinados lugares, o medidor de energia magnética apitou... Na Hemoterapia e no quarto 413; um suposto vulto apareceu - nada além de mentes impressionadas. No terraço, o telhado banhado de lua, a torre da igreja ao longe e as estrelas...
   O pendor da visita foi válido por ter sentido os ares poéticos e lúgubres, de paz e de melancolia dos corredores, dos passos que morreram ali, dos sorrisos de esperança e das lágrimas de despedida. Elementos eternizados sob os telhados, os mesmos telhados que vi banhados de lua. O hospital é um imenso sepulcro... Sem fantasmas...

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