sexta-feira, 21 de maio de 2010

Hospital - parte I

   A tarde estava nebulosa e o sol fazia algum esforço para sair. A chuva ocasional serviu somente para invadir o ar com odor de terra molhada. A razão de estar ali fora um convite recebido na semana anterior: visitar um hospital abandonado onde, supostamente, ocorrem manifestações paranormais. A construção impressiona pelo tamanho e estilo - um complexo erguido em 1912, conservando ainda hoje a estrutura da época. De fato estava tudo preservado: as janelas, as portas, a escadaria do saguão, o vitral na passagem para a segunda ala. Insisti  em precipitar a visita e  fazer um reconhecimento do local antes que se realizasse o trabalho experimental que visa, tão somente, captar as tais manifestações.
   Alguns podem achar demasiado excêntrico e mesmo tétrico. Mas o fato é que esse tipo de investigação vai além de invocações pueris e brincadeiras mesquinhas. Não há como convencer as pessoas da legitimidade do trabalho - e nem é essa a intenção. Estando aí a prova, acredita quem quiser! No mais, a história tem valor de ficção. Portanto, prossiguemos...
   Reservo o direito de não dar qualquer indicação de qual seja o lugar. Ele existe, é o que importa saber! Subi as escadas reparando no mármore dos degraus e nas pastilhas do piso que entremeia um lance e outro. No segundo pavimento, passei à investigação de cada ambiente: portas e janelas de duas bandas, pé direito alto e camas à manivela - em um trecho, há sulcos nas paredes e basculantes semelhantes a escotilhas; elementos de composição do espaço que não sofreu modificações ao longo do tempo. A única adaptação aparente foi a instalação de elevadores e tubos que abasteciam os quartos com oxigênio; fora isso, nem mesmo os banheiros eram adequados para receber pacientes com dificuldades de locomoção. O hospital, verdadeiramente, jamais poderia atender as demandas atuais naquelas condições. Talvez haja falido... 
   As paredes estão mofadas, os pisos, estufados, há reboco caindo e, em alguns pontos, a vegetação invade cômodos e áreas comuns. Apenas o centro cirúrgico mantém o cheiro característico, fazendo deste setor o mais sombrio, único a inspirar real temor. Todavia, nada foi visto, ouvido ou sentido.
   Em casa, tentei desesperadamente refazer a visita em memória. Eu tinha as recordações desconexas como peças de quebra-cabeça... Não consegui montá-lo. Fui dormir esperando ansiosamente voltar.

Continua...


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